Se parar para pensar, o papel higiênico é uma daquelas invenções que lembram como a humanidade sempre buscou conforto, dignidade e um pouco de engenho diante do inevitável. Mas não foi sempre assim.
Na Antiguidade, os romanos usavam esponjas em paus, mergulhadas em vinagre, nas casas de banho públicas, compartilhadas com a mesma naturalidade com que hoje compartilhamos piadas ruins. Os gregos recorriam a pedaços de cerâmica; no Japão medieval, varinhas de madeira polida cumpriam a mesma função; e no Oriente Médio, a água corrente sempre foi a fiel aliada da higiene. Mais tarde, na Europa feudal, pedaços de pano eram lavados, enxugados e reutilizados — ideia que faz nossos estômagos tremerem só de imaginar.
Foi na China que o papel começou a mudar o jogo. Já no século VI, alguns documentos falam em folhas usadas para higiene — mas apenas para a elite. Em 105 d.C., o oficial Cai Lun aperfeiçoou a mistura de fibras vegetais, trapos e água, prensada e seca, e deu ao mundo algo que se transformaria na maior revolução silenciosa da história: o papel. Séculos depois, durante a dinastia Ming, milhares de folhas eram produzidas anualmente para a corte imperial — algumas perfumadas, outras simples, mas todas cuidadosamente reservadas para as mãos da nobreza.
No Ocidente, a ideia demorou mais a chegar. Somente em 1857, Joseph Gayetty lançou o primeiro papel higiênico comercial nos Estados Unidos, folhas avulsas, medicadas, como se a higiene pudesse ter um aroma de aloe. Quase duas décadas depois, surgiram os rolos perfurados, que permitiram ao hábito se espalhar de vez, levando àquele pequeno luxo cotidiano que conhecemos hoje.
Enquanto isso, o papel em geral conquistava o mundo: da escrita à arte, do comércio à imprensa, sempre reinventando-se. E, no Brasil, esse tecido de fibras naturais e industriosas ganhou um papel de destaque: somos segundo maior produtor de celulose do mundo e entre os 10 maiores produtores de papel, com empresas que movimentam milhões de toneladas, geram centenas de milhares de empregos e conectam florestas, fábricas e mesas de cozinha em um ciclo que mistura natureza, trabalho e necessidade humana.
No fim, seja no luxo perfumado da corte imperial chinesa ou na simplicidade de um rolo moderno no banheiro de qualquer casa, o papel higiênico nos lembra que, por mais sofisticados que nos tornemos, todos partilhamos da mesma condição humana — e do mesmo cuidado com a própria dignidade.
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