Ronald Evans, diretor do laboratório de expressão gênica do Instituto Salk, nos EUA, que desenvolveu composto chamado fexaramine |
Uma nova substância é capaz de enganar o organismo, levando-o a
perder peso e combater a obesidade. Coordenados por pesquisadores do
Instituto Salk (EUA), os testes com a “pílula da refeição imaginária”,
como eles apelidaram o composto, funcionaram em camundongos. Agora, os
cientistas estão empolgados para experimentá-la em humanos.
Além
de queimar gordura, a substância, chamada fexaramina, diminui o
colesterol, a pressão sanguínea e os níveis de açúcar, controlando o
diabetes. A diferença em relação a outros medicamentos no mercado é que
ela não penetra na corrente sanguínea, permanecendo apenas no aparelho
digestivo, o que reduz os efeitos colaterais.
— Especialmente no Brasil, temos poucas opções de drogas para
tratamento de obesidade. Há algumas aprovadas pelo FDA (agência
reguladora dos EUA) com bons resultados que não chegaram aqui — explica
Flávia Conceição, vice-presidente da Sociedade Brasileira de
Endocrinologia e Metabologia Regional RJ. — Porém, nem todos os
pacientes respondem da mesma maneira a uma droga: há os que perdem
bastante peso e outros que não acusam efeito nenhum. Os efeitos
colaterais também variam.
População de mais de 17% de obesos
Dados de 2014 da pesquisa Vigitel, do Ministério da Saúde, mostram
que 50,8% dos brasileiros estão acima do peso ideal, e destes, 17,5% são
obesos. Além disso, a prevalência de mulheres com diabetes é de 7,2%,
contra 6,5% nos homens. Entre pessoas com mais de 65 anos, o índice de
diabéticos chega a 22%. A obesidade e a diabetes levam a complicações
cardíacas e diminuem a expectativa de vida.
— A pílula é como uma refeição imaginária — compara Ronald Evans,
diretor do Laboratório de Expressão Gênica de Salk e autor principal da
pesquisa publicada ontem na revista “Nature Medicine”. — Ela manda os
mesmos sinais que normalmente ocorrem quando a pessoa come uma grande
quantidade de alimentos, de modo que o corpo começa a abrir espaço para
estocá-los. Mas não há calorias nem mudanças no apetite, então,
consequentemente, há perda de peso.
A fexaramina ativa uma proteína chamada receptor farensoid X (FXR),
que controla a liberação de ácidos biliares do fígado, a digestão do
alimento e o estoque de gorduras e açúcares. Outras drogas contra a
obesidade bloqueiam a absorção de gordura, já esta queima seu excesso. O
laboratório de Evans trabalha há 20 anos com o FXR, mas há outros
centros de pesquisa que também estão estudando drogas com função
parecida.
— Como esta droga, várias outras com características semelhantes
(AGN34, GW4064 e WAY 362450) começaram a ser estudadas nos últimos anos,
e agora estão saindo os primeiros resultados com animais — afirma a
endocrinologista Isabela Bussade, professora da pós-graduação de
Endocrinologia da PUC-Rio. — Esse estudo é bem interessante porque traz
um mecanismo diferente de ação dos remédios atuais, mas claro que para
termos resultados com humanos ainda vai levar alguns anos.
Camundongos diabéticos e obesos receberam a substância por cinco
semanas. Segundo Michael Downes, coautor e pesquisador Laboratório de
Expressão Gênica de Salk, foram encontrados os seguintes resultados: os
níveis de glicose voltaram ao normal de um animal não diabético; houve
redução dos níveis de colesterol em 35%; de insulina, em 70%; de massa
de gordura em 45%; e eles ainda deixaram de ganhar peso. Quando
questionado por quanto tempo seria preciso manter o tratamento, ele
pondera:
— Isto dependeria de outros fatores, como mudanças no estilo de vida.
Neste estágio das pesquisas, eu diria que a droga precisaria ser
administrada mesmo após resultados positivos, mas ainda precisamos de
mais estudos para comprovar isso.
Ou seja, além da substância, o estilo de vida saudável continuaria sendo prioridade.
— Sempre incentivamos a prática de atividade física e a dieta
balanceada. O medicamento é a terceira via no tratamento do obeso que
não responde apenas às mudanças no estilo de vida — reforça Isabela.
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