Destilados
tendem a fazer as pessoas se sentirem agressivas ou emotivas, enquanto vinho
tinto e cerveja relaxam, aponta pesquisa com mais de 30 mil pessoas em 21
países.
Uma
pesquisa feita em 21 países, entre eles o Brasil, indica que os efeitos do
álcool no comportamento variam de acordo com o tipo de bebida consumida.
Dos 30
mil entrevistados para o estudo, 29,8% disseram que se sentem agressivos quando
bebem destilados e 7,1%, quando bebem vinho tinto.
Cerveja e vinho normalmente relaxam. Já os
destilados podem fazer a pessoa se sentir mais agressiva, sexy ou emotiva.
Para esse
estudo, divulgado na publicação acadêmica de medicina BMJ Open, foram
entrevistados cerca de 30 mil indivíduos com idade entre 18 e 34 anos.
Os resultados
indicam ainda que a probabilidade de apresentar comportamento agressivo é maior
entre os que potencialmente podem apresentar dependência do álcool, por
consumirem uma grande quantidade com frequência.
As
evidências identificadas pelo estudo podem, segundo os pesquisadores, ajudar a
entender melhor o alcoolismo e o que motiva as pessoas a beberem.
Com o
tempo, as pessoas adquirem tolerância ao álcool e podem acabar bebendo mais
para sentir os mesmos "efeitos positivos", avaliam os cientistas. Mas
o aumento no consumo também atrai os efeitos negativos, explica o professor e
pesquisador britânico Mark Bellis.
As
entrevistas para o estudo foram feitas por meio de formulários online que
garantiam o anonimato dos participantes, recrutados em sites de notícias e nas
redes sociais.
Se
comparado a outros tipos de bebidas, o consumo de destilados - como tequila,
rum e gim, por exemplo - está mais associado a comportamentos agressivos,
mal-estar, inquietação e choro.
A pesquisa
também indica que:
- Vinho
tinto faz as pessoas se sentirem mais letárgicas que vinho branco;
- Beber
cerveja e vinho tinto relaxa mais;
- Mais de
40% dos entrevistados disseram que beber destilados os fazem se sentir sexy;
- Mais da
metade dos que bebem destilados se sentem energéticos e confiantes, mas um
terço se percebe agressivo quando consome esse tipo de bebida;
- Homens
são mais propensos que mulheres a apresentarem comportamento agressivo com
todos os tipos de álcool, em especial os que bebem mais.
Sentimentos
provocados pelo consumo do mesmo tipo de bebida também variam entre países
As
diferenças nas emoções também variam a depender do país do entrevistado.
Participantes
da Colômbia e do Brasil relataram uma maior associação com as emoções positivas
de sentir-se com mais energia, relaxado e sexy, por exemplo.
Entre as
emoções negativas, a Noruega apresentou índices maiores ligando consumo de
álcool e relatos de agressividade. A França, por sua vez, foi o país com mais
reportes de inquietude.
Os
pesquisadores salientam, porém, que é necessário cautela para interpretar esses
resultados, devido à pequena amostra para cada país.
Apesar de o
estudo indicar associações entre cada tipo de bebida e mudanças no
comportamento, não apresenta uma explicação sobre o porquê das alterações.
Bellis
afirma que o local onde a bebida é consumida também pode fazer diferença, e que
a pesquisa tentou levar em consideração se a ingestão de álcool acontece dentro
ou fora de casa.
"Jovens
muitas vezes bebem destilados em uma noitada, enquanto o vinho é mais consumido
em casa, com uma refeição", observa.
Ele diz ainda
que há o fator "expectativa". "Alguém que quer relaxar vai
escolher uma cerveja ou um vinho."
A pesquisa
indica que homens são mais propensos que mulheres a apresentarem comportamento
agressivo com todos os tipos de álcool
O professor
acredita ainda que as diferentes formas que bebidas são comercializadas ou
promovidas encorajam as pessoas a escolher um determinado tipo delas na
expectativa de se comportar de uma certa forma ou de sentir algo específico.
Isso, segundo ele, pode desencadear sentimentos e comportamentos negativos.
"As
pessoas podem beber para se sentirem mais confiantes ou relaxadas. Mas também
acabam se arriscando a ter reações ruins."
Segundo os
pesquisadores da universidade britânica King's College London, os resultados do
levantamento indicam que os dependentes do álcool confiam à substância a função
de gerar sentimentos positivos: têm cinco vezes mais chances de se sentirem com
mais energia em relação às que bebem com menos frequência.
"O
estudo mostra a importância de entender por que as pessoas escolhem beber
certos tipos de bebidas e o efeito que esperam ter ao consumi-las", diz
John Larse, da Drinkaware, entidade sem fins lucrativos que alerta para os
riscos e atua para reduzir o consumo de álcool no Reino Unido.
No país, a
recomendação é ingerir menos de 14 unidades por semana para manter os riscos à
saúde em um nível mais baixo. Isso equivale a 12 doses de destilados,
seis pints (473 ml) de cerveja ou seis taças de 175ml
de vinho a cada sete dias.
Especialistas
defendem a adoção de políticas como a que estabelece um preço mínimo para cada
grau de álcool. Isso significa que bebidas com teor etílico mais alto, como
uísque, ficariam ainda mais caras - o que em tese ajudaria a combater o
alcoolismo.
A Escócia
irá a adotar um preço mínimo, estipulado em 50 centavos de libra (cerca de R$
2,18) por unidade padrão, que mensura o volume de álcool puro em cada bebida. O
País de Gales e a Irlanda também discutem legislação específica para estipular
regra semelhante.
Entrevistados
de 21 países disseram que cerveja e vinho relaxam mais que outras bebidas
No Brasil,
o governo federal estabeleceu um novo modelo de tributação para vinhos,
espumantes, uísques, vodcas, cachaças, licores, sidras, aguardentes, gim,
vermutes e outros destilados, aplicado desde dezembro de 2015. O principal
objetivo da medida, contudo, era aumentar a arrecadação.
O mais
recente estudo da OMS sobre a ingestão de álcool no país, publicado em 2014,
detectou uma queda no consumo per capita entre os anos de 2003 e 2010 (de 9,8
para 8,7 litros). Mas o volume está acima da média mundial, de 6,5 litros per
capita, e mais do que dobrou desde 1985, quando o índice era inferior a quatro
litros.
A OMS
coloca o Brasil no 53º lugar em um ranking de 191 países - liderado por nações
do Leste Europeu, sendo Belarus e Moldova os dois primeiros colocados.
Já o último
Levantamento Nacional de Álcool de Drogas da Universidade Federal de São Paulo,
baseado em pesquisas em 143 municípios de todo o país, também divulgado pela
última vez em 2014, mostrou que quase quatro em cada 10 brasileiros bebem pelo
menos cinco doses de bebida em uma mesma ocasião, em um intervalo de duas
horas.
Segundo o
Ministério da Saúde, entre 2010 e 2013 foram contabilizadas mais de 313 mil
internações no Sistema Único de Saúde (SUS) decorrentes do alcoolismo. São
gastos, em média, cerca de R$ 60 milhões por ano com pessoas dependentes do
álcool.
Fonte: BBC.com