domingo, 2 de outubro de 2016

A doutrina de Buda


Entre as grandes religiões reveladoras dos ensinamentos deixados por todos os Instrutores Espirituais que, de época em época vêm ao mundo para auxiliar a humanidade, o Budismo se revelou como a mais filosófica e compreensiva, a mais capaz de ser entendida pelos povos em todas as idades e pertencentes a todas as nações, sejam orientais ou ocidentais. 
Ministrando ensinamentos profundamente espirituais num estilo lógico e acessível a mentalidades as mais diversas o Budismo constitui atualmente a religião mais numerosa concernente ao número de adeptos, pois tendo sido pregada no oriente ande a população do mundo é muito maior, conta ainda com grande número de adeptos ocidentais espalhados por todas as nações. 
É sabido que a terça parte da humanidade pertence à religião do Buda, embora nela encontremos adeptos que interpretam seu evangelho de maneira mais filosófica e outros de forma mais mística e espiritual, ela tem servido de base para uma civilização que está, como diz o poeta, renascendo de suas próprias cinzas, e erguendo alto o cetro da Verdade, daquela Verdade não envolta de dogmas e tradições que tanto têm desfigurado as realidades espirituais. 
Quando um jovem príncipe hindu abandonou o palácio de seu pai, trocando um império terreno por outro espiritual apesar de seu povo, na época, constituir uma civilização muito feliz, desejou ele conhecer a humanidade em todas as suas condições externas e internas, descobrindo então que o homem não era realmente feliz. 
Sentiu em seu próprio coração a dor alheia, compreendeu que a vida não podia trazer paz à humanidade enquanto estivesse presa à roda das mortes e renascimentos e o homem fosse escravo de seu limitado "eu".
Foi pois, na auto-libertação que baseou toda a sua doutrina, procurando destruir por completo todo pensamento do "eu" separatista. 
O Nirvana do Buda é um estado de alma no qual o homem, depois de se purificar de todo o egoísmo, renuncia a todas as solicitações do prazer e emprega suas energias somente no cumprimento de seu dever para a vida. 
E, em sua peregrinação, o jovem príncipe hindu foi vítima de todas as tentações da personalidade, que, como leis humanas, arrastam o homem a viver ligado ao mundo no qual fez a sua evolução. Mas, atraído pelo Espírito Ovino, sentou-se sob uma grande árvore, e dando asas ao seu pensamento, meditou na vida, nos sofrimentos humanos e na morte. Iluminado o seu Espírito, libertou-se da confusão; seu coração se inundou de uma calma completa, e sua consciência mergulhou na sereníssima paz do Nirvana. 
Vivendo meditações profundas por uma sucessão de dias, em que, em êxtase, viu com o olho espiritual tudo quanto de miséria e angústia envolve a humanidade, após singular visão de um enviado celeste que, através da palavra sábia, o fez sentir o coração cheio de paz, liberto de todos os laços que o prendiam à terra e, livre da ilusão, entregando-se a grandes reflexões. E, conscientizado de que se transformara em um Buda, aquele ser em que a Verdade reside em suas palavras, que têm que ser cumpridas, assim pensou: 
"Se os seres existentes vissem o resultado de suas más ações, afastar-se-iam delas desgostosos; porém o eu, a personalidade, é cego e continua preso ao desejo."
"Desejam ardentemente o prazer e engendram a dor. Quando a morte lhes destrói a personalidade, não encontram paz alguma. A cadeia de existências continua, a personalidade reaparece em novos nascimentos,, e assim não conseguem fugir de um círculo vicioso criado por eles próprios." 
"O mundo está cheio de pecado, sofrimento e erro. Os homens pensam que o erro vale mais do que a Verdade; vou ensinar-lhes o sagrado Dharma (a Lei, o Dever)."
Dharma é a Lei Sagrada; só ele pode nos libertar da dor. A causa de toda dor jaz na ignorância.  "Dissipai a ignorância  e destruireis tudo o que dela provém. Destruí a ignorância e compreendereis que todo o mal está no egoísmo da personalidade, e se destruirdes o "eu"  estareis acima do nascimento, da velhice da enfermidade e da morte, e vos libertareis do sofrimento." 
Como Buda, anunciou as quatro Nobres Verdades que, seguidas pela humanidade, transformariam o mundo de lutas num mundo de paz. 
Eis as quatro Nobres Verdades: primeiro, a existência da dor: sofre-se ao nascer, ao crescer, ao morrer; sofre-se junto de quem se ama, sofre-se ainda mais separando-se de quem se ama.
A segunda é a causa da dor, que é o desejo. O mundo que nos rodeia está cheo de desejos que engendram a imediata satisfação; tudo isto é a ilusão do "Eu". 
A terceira é a cessação da dor; quem domina o "eu" livra-se do apego e da chama do desejo.
A quarta grande Verdade é a óctupla Senda, que leva à cessação da dor Só se salva aquele cujo "eu" desaparece diante da Verdade. O sábio segue somente o caminho do Dever. 
Eis a Óctupla Senda: Reta Compreensão; Reto Propósito; Reta Linguagem; Reta Ação; Retos meios de ganhar a vida; Retos Esforços; Reta Atenção; Reta Meditação . 
Este é o Dharma, esta é a Verdade, esta é a religião. 
Nos dias de hoje, não há mais oriente e ocidente. Existe um mundo só. A ciência ligou todos os países, cujas fronteiras se transpõem agora em dias e ho­ras, em vez de anos e meses como outrora. Uma nova filosofia transcendente es tá unindo mentalmente os homens de todas as religiões; e o Budismo reaparece como um farol luminoso, projetando do oriente para o ocidente uma nova concepção da vida e levando a humanidade a sentir realmente a unidade jacente nas mentes e corações dos homens de todas as pátrias e de todas as nações.
A Fraternidade Universal só será implantada na terra pelo vencimento do "eu", e consequentemente, pela destruição do egoísmo, o causador dos males que vitimaram tantas gerações.
As gerações mais amadurecidas espiritualmente começam a sentir em seus corações as palavras do Senhor Buda:
"Onde está o "eu" não está a Verdade. Onde está a Verdade, não está o "eu". A existência do "eu" é uma ilusão, e não há no mundo vícios nem pecados que não se derivem do "eu". A paz perfeita só pode ser estabelecida quando desaparecer o "eu".

Fonte: Nair Pinto Duarte Botelho (Sócia Honorária do RC RJ Ramos) - Baseado na obra de Cinira Riedel de Figueiredo   "Meditações sobre a Vida"