Entre as grandes religiões
reveladoras dos ensinamentos deixados por todos os Instrutores Espirituais que, de época
em época vêm ao
mundo para auxiliar
a humanidade, o Budismo se revelou como a mais filosófica e compreensiva, a mais capaz
de ser entendida pelos povos em todas as idades e pertencentes a todas as nações, sejam orientais ou ocidentais.
Ministrando
ensinamentos profundamente espirituais num estilo lógico e acessível a
mentalidades as mais diversas o Budismo constitui atualmente a religião mais numerosa concernente ao número de
adeptos, pois tendo sido pregada no oriente ande a população do mundo é muito
maior, conta ainda com grande número de adeptos ocidentais espalhados
por todas as nações.
É sabido que a terça
parte da humanidade pertence à religião do Buda, embora nela
encontremos adeptos que interpretam seu evangelho de maneira mais filosófica e
outros de forma mais mística e espiritual, ela tem servido
de base para uma civilização que está, como diz o poeta,
renascendo de suas próprias cinzas, e erguendo alto o
cetro da Verdade, daquela Verdade não envolta de dogmas e tradições que tanto têm
desfigurado as realidades espirituais.
Quando um jovem príncipe hindu abandonou o palácio de
seu pai, trocando um império
terreno por outro espiritual apesar de seu povo, na época, constituir uma civilização muito feliz, desejou ele conhecer a humanidade em todas
as suas condições externas e internas, descobrindo então que o homem não era realmente feliz.
Sentiu em seu próprio coração a dor alheia,
compreendeu que a vida não podia trazer paz à
humanidade enquanto estivesse presa à roda das mortes e renascimentos e o homem
fosse escravo de seu limitado "eu".
Foi pois, na auto-libertação que baseou toda a sua doutrina,
procurando destruir
por completo todo pensamento do "eu" separatista.
O
Nirvana do Buda é um estado de alma no qual o homem,
depois de se purificar
de todo o egoísmo, renuncia a todas as solicitações do prazer e emprega suas energias somente no
cumprimento de seu dever para a vida.
E, em sua peregrinação, o jovem príncipe hindu foi vítima
de todas as tentações da personalidade, que, como leis humanas, arrastam o
homem a viver ligado ao
mundo no qual fez a sua evolução. Mas, atraído pelo Espírito
Ovino, sentou-se
sob uma grande árvore, e dando asas ao seu
pensamento, meditou na vida,
nos sofrimentos humanos e na morte. Iluminado o seu Espírito, libertou-se da confusão; seu
coração se inundou de uma calma completa, e sua consciência mergulhou na sereníssima
paz do Nirvana.
Vivendo meditações profundas por uma sucessão de dias, em que, em êxtase, viu com o olho
espiritual tudo quanto de miséria e angústia envolve a humanidade, após
singular visão de um enviado celeste que, através da
palavra sábia, o fez sentir o coração cheio de paz, liberto de todos os laços que
o prendiam à terra e, livre da ilusão,
entregando-se a grandes reflexões. E, conscientizado de que se transformara em
um Buda, aquele ser em que a Verdade reside em suas palavras, que têm que ser cumpridas,
assim pensou:
"Se os seres existentes vissem o resultado de suas más ações, afastar-se-iam delas desgostosos; porém o eu, a personalidade, é cego e
continua preso ao
desejo."
"Desejam
ardentemente o prazer e engendram a dor. Quando a morte lhes destrói a personalidade, não
encontram paz alguma. A cadeia de existências continua, a personalidade
reaparece em novos nascimentos,, e assim não conseguem fugir de um círculo
vicioso criado por eles próprios."
"O mundo está cheio de pecado, sofrimento e erro.
Os homens pensam que o erro vale mais do que a Verdade; vou ensinar-lhes o
sagrado Dharma (a Lei, o
Dever)."
Dharma é a Lei
Sagrada; só ele pode nos libertar da dor. A
causa de toda dor
jaz na ignorância. "Dissipai a ignorância e destruireis tudo o que dela provém.
Destruí a ignorância e compreendereis
que todo o mal está no egoísmo da personalidade, e se
destruirdes o "eu" estareis
acima do nascimento, da velhice da enfermidade e da morte, e vos libertareis do sofrimento."
Como Buda, anunciou as quatro Nobres Verdades que, seguidas pela humanidade, transformariam o mundo de lutas num mundo de paz.
Eis as quatro Nobres
Verdades: primeiro, a existência da dor: sofre-se ao nascer, ao crescer, ao
morrer; sofre-se junto de quem se ama, sofre-se ainda mais separando-se de quem se
ama.
A segunda é a causa da dor, que é o
desejo. O mundo que nos rodeia está cheo de desejos que engendram a
imediata satisfação; tudo isto é a ilusão do "Eu".
A terceira é a
cessação da dor; quem domina o "eu" livra-se do apego
e da chama do desejo.
A quarta grande Verdade é a óctupla Senda, que leva à cessação da dor Só se salva aquele cujo "eu"
desaparece diante da Verdade. O sábio segue somente o caminho do Dever.
Eis a Óctupla
Senda: Reta Compreensão; Reto Propósito; Reta Linguagem; Reta Ação;
Retos meios de ganhar a vida; Retos Esforços;
Reta Atenção;
Reta Meditação .
Este é o Dharma, esta é a Verdade, esta é a
religião.
Nos dias de hoje, não há mais
oriente e ocidente. Existe um mundo só. A ciência ligou todos os países,
cujas fronteiras se transpõem agora em dias e horas, em vez de
anos e meses como outrora. Uma nova filosofia transcendente es tá unindo mentalmente os
homens de todas as religiões; e o Budismo reaparece como um farol luminoso,
projetando do oriente para o ocidente uma nova concepção da vida e levando a
humanidade a sentir realmente a unidade jacente nas mentes e corações dos homens de todas
as pátrias
e de todas as nações.
A Fraternidade Universal
só será
implantada na terra pelo vencimento do "eu", e consequentemente, pela destruição do egoísmo, o causador dos males que
vitimaram tantas gerações.
As gerações mais amadurecidas espiritualmente
começam a
sentir em seus corações as palavras do Senhor Buda:
"Onde
está o
"eu" não está a Verdade. Onde está a
Verdade, não está o "eu". A existência
do "eu" é uma ilusão, e não há no
mundo vícios nem pecados que não se
derivem do "eu". A paz perfeita só pode ser estabelecida
quando desaparecer
o "eu".
Fonte: Nair Pinto Duarte Botelho (Sócia Honorária do RC RJ Ramos) - Baseado na obra de Cinira Riedel de Figueiredo — "Meditações sobre a Vida"