quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Paulinho da Viola e Marisa Monte na Música do dia

Apreciem esta relíquia interpretada por Marisa Monte e Paulinho da Viola. Dificilmente haverá outro "casamento" tão perfeito entre letra e música.
Ofereço também um pouco de história sobre o conjunto letra e música.
A música é de 1917, de autoria de Pixinguinha (Alfredo da Rocha Viana); a letra só chegou em 1937, com a genialidade de João de Barro (BRAGUINHA - Carlos Alberto Ferreira Braga).
Carinhoso tem uma história que se inicia de forma inusitada, com o autor da música (Pixinguinha) mantendo-a inédita por mais de dez anos. Sua justificativa, no depoimento que deu ao Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro em 1968 :
- "Eu fiz o Carinhoso em 1917. Naquele tempo o pessoal nosso da música não admitia choro assim de duas partes (choro tinha que ter três partes). Então, eu fiz o Carinhoso e encostei. Tocar o Carinhoso naquele meio! Eu não tocava... Ninguém ia aceitar".
O jovem Pixinguinha, então com 20 anos, não se atrevia a contrariar o esquema adotado nos choros da época, herdada da polca. Ele mesmo esclareceu, no depoimento, que Carinhoso era uma polca, polca lenta.
- "O andamento era o mesmo de hoje e eu classifiquei de polca ou polca vagarosa. Mais tarde mudei para chorinho".
Carinhoso foi gravado, apenas instrumentalmente, em 1928 pela orquestra Típica Pixinguinha-Donga. Sobre essa gravação, um crítico pouco versado em jazz publicou o seguinte comentário na revista Phonoarte (nº 11, de 15.01.1929):
- "Parece que o nosso popular compositor anda sendo influenciado pelos ritmos e melodias do jazz. É o que temos notado, desde algum tempo e mais uma vez neste seu choro, cuja introdução é um verdadeiro fox-trot e que, no seu decorrer, apresenta combinações de música popular yankee. Não nos agradou".
Ainda sem letra, Carinhoso teria mais duas gravações apenas instrumentais. Apesar das três gravações e execuções em programas de rádio e rodas de choro, continuava até meados dos anos trinta ignorado pelo grande público.
Em outubro de 1936, um acontecimento iria contribuir de forma acidental para uma completa mudança no curso de sua história.
Encenava-se naquele mês no Teatro Municipal do Rio de Janeiro o espetáculo Parada das Maravilhas", promovido pela primeira dama, dna. Darcy Vargas, em benefício da obra assistencial Pequena Cruzada.
Convidada a participar do evento, a atriz e cantora Heloísa Helena pediu a seu amigo Braguinha uma canção nova que marcasse sua presença no palco.
Não possuindo nenhuma na ocasião, o compositor aceitou então a sugestão da amiga para que pusesse versos no choro Carinhoso.
- "Procurei imediatamente o Pixinguinha", relembra Braguinha, "que me mostrou a melodia num dancing (o Eldorado) onde estava atuando. No dia seguinte entreguei a letra a Heloísa, que muito satisfeita, me presenteou com uma gravata italiana".
Surgiu assim, escrita às pressas e sem maiores pretensões a letra de Carinhoso, que se tornaria um dos maiores clássicos da MPB a partir do momento que pôde ser cantado. Recebeu mais de duzentas gravações, desde a primeira (28.05.1937) cantada por Orlando Silva, o "cantor das multidões"
.
A música do dia de hoje tem direito a vídeo com Marisa Monte e Paulinho da Viola. Curtam!


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