sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Halloween

No Brasil, como em outros países, a festa de Halloween foi introduzida inicialmente nas escolas, espalhando-se por outros locais.
Grandes abóboras vazias iluminadas em seu interior, como se fossem caveiras, esqueletos e sombrias figuras encapuzadas, risadas assustadoras e um estribilho obsessivo; gostosuras ou travessuras?
(trick or track?). Assim gritam as crianças quando chegan às portas das casas que visitam. Tudo isso é Halloween, uma moda, uma festa, um novo costume que se impôs nos últimos anos, graças, em parte, à persuasão do cinema e da televisão.
Mas, afinal, o que significa Halloween e porque comemorar? O tema de Halloween foi abordado em todos seus aspectos pelo escritor italiano Paolo Gulisano, autor de numerosos ensaios sobre literatura de fantasia e sobre a cultura anglo-saxônica. Em outubro de 2006 ele concedeu uma entrevista em Roma, de onde pincei alguns trechos sobre a origem do Halloween e o entendimento do escritor sobre a festa.
Diz ele que "há quem vê no Halloween um retorno a formas de "paganismo" e quem, ao contrário, vê um rito folclórico e de consumismo, uma espécie de inócuo carnaval fora de temporada. O fato é que ninguém recorda, não só entre as crianças e jovens e no âmbito mediático popular, a festividade cristã que Halloween está suplantando, Todos os Santos, que ocorre a 1º de novembro, confundindo-se com a comemoração do Dia de Finados, que cai na realidade no dia seguinte."

Perguntado sobre o que significa Halloween, Gulisano assim explica: "o nome Halloween é a deformação americana do termo, no inglês, da Irlanda, All Howllows' Eve: Vigília de Todos os Santos. Esta antiqüíssima festa chegou aos Estados Unidos junto com os imigrantes irlandeses e lá se enraizou, para sofrer recentemente uma radical transformação.
Das telas de Hollywood, a moda de Halloween chegou assim desde há alguns anos à velha Europa e a outras partes do mundo. Por trás de Halloween está uma das mais antigas festas sagradas do Ocidente: uma festa que atravessou os séculos, com usos e costumes que se foram redefinindo no tempo, mas que conservaram o mesmo significado. Suas origens, o significado dos símbolos, são, contudo, desconhecidos para a maioria."
Indagado se a festa se referia ao
paganismo dos celtas, uma vez que em 1º de novembro, que era para eles o primeiro dia do ano, realizava-se a festa na qual os espíritos buscavam corpos para reencarnar-se e que mais tarde a Igreja, na Idade Média, substituiria esta tradição pela festividade de Todos os Santos, que é seguida depois pelo dia de Finados, o escritor afirma: "Halloween não é mais que a última versão, secularizada, de uma ortodoxa festa católica".
Em um de seus livros ele diz que "procurou explicar como pôde suceder que uma tradição plurissecular cristã tenha se convertido no atual carnaval de terror." E acrescenta "digamos antes de tudo, que a origem deste último fenômeno,
Halloween, é completamente americana. Nesse país, ao qual chegaram milhões de imigrantes irlandeses, com sua profunda devoção pelos santos, se tratava de um culto muito fastidioso para a cultura dominante, de caráter puritano. Deste modo, em sua atual versão secularizada, buscou-se descartar o sentido católico de Todos os Santos, mantendo em Halloween o aspecto lúgubre do mais além, com os fantasmas, os mortos que se levantam dos túmulos, as almas perdidas que atormentam aos que em vida lhes fizeram dano: um aspecto que se tenta exorcizar com as máscaras e as brincadeiras."
O escritor discorda daqueles que consideram o
Halloween simplesmente como um fenômeno comercial ou como um segundo Carnaval e afirma que "é importante conhecer e saber valorizar bem suas raízes culturais, e também as implicações esotéricas que se sobrepuseram ambiguamente a esta data. O dia 31 de outubro, com efeito, se converteu em uma data importante para o esoterismo, em cujos textos encontramos estas definições: "Volta do Grande Sabba (encontro entre as bruxas e Satanás) quatro vezes ao ano... Halloween, que é talvez a festa mais querida"; "Samhain (festa celta de 1º de novembro) é o dia mais mágico de todo o ano, ano novo de todo o mundo esotérico". O mundo do oculto a define assim: "é a festa mais importante para os seguidores de Satanás". A data de uma importante celebração de cultura celta antes e da cristã, depois, passou a fazer parte do calendário do ocultismo."
Na opinião do escritor Gulisano, nesta data "pode-se e deve-se fazer festa. Em 1º de novembro, que foi o Ano Novo celta e depois Todos os Santos, é uma festividade extraordinária para os cristãos, e não vale a pena deixá-la nas mãos de charlatões e ocultistas. Não é preciso ter medo do Halloween "mal", e por isso é preciso conhecê-lo bem. Halloween, de qualquer forma, não pode ser ignorado, já faz parte do cenário de nossos tempos. O que fazer, portanto?
Educadores e famílias deveriam mobilizar-se contra a falta de educação, de bom gosto, contra a profanação do mistério da morte e da vida após a morte, mas não é fácil ir contra a corrente, desafiar as modas que imperam em nossa sociedade. Então, pode-se fazer festa em Halloween, recordando o que este dia significou durante séculos e o que continua testemunhando. Deve-se salvar Halloween, dando-lhe todo seu antigo significado, liberando esta festa da dimensão puramente consumista e comercial e, sobretudo, extirpando a pátina de ocultismo sombrio de que foi revestida. Portanto, eu aconselharia organizar a festa e explicar claramente que se está festejando os mortos e os santos, de forma positiva e inclusive engraçada, para que as crianças sejam educadas em uma visão da morte como um acontecimento humano, natural, do qual não se deve ter medo.
"

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