terça-feira, 21 de janeiro de 2025

O significado de despesas, gastos e custos

Para um leigo, despesas, gastos e custos significam, na maioria das vezes, a mesma coisa: um dispêndio. Quando o estudante de Ciências Contábeis, ou de outra área semelhante aprende que há diferenças entre esses três termos, um dos maiores problemas, em geral, é fazer a distinção entre os mesmos.
De fato, gasto é todo dispêndio financeiro, todo sacrifício que uma entidade arca para a aquisição de um bem ou serviço. O conceito de gasto é bastante amplo. Entre alguns exemplos de gastos, podemos citar a aquisição de máquinas, equipamentos, veículos, móveis, ferramentas, etc. Um gasto pode se transformar num investimento que, sucessivamente, se torna um custo e uma despesa.
Custo é o gasto, ou seja, o sacrifício financeiro que a entidade arca no momento da utilização dos fatores de produção para a realização de um bem ou serviço. Os custos podem ser entendidos conforme o segmento da entidade. No comércio, a aquisição de mercadorias é o custo, já na indústria, ele é entendido como a aquisição de matérias-primas, insumos e mão-de-obra na produção de um bem.
As despesas estão relacionadas com os gastos usados para a obtenção de receitas. São entendidos como despesa, os gastos com salários, aluguel, telefone, propaganda, comissão de vendedores, entre outros. Na DRE (Demonstração do resultado do exercício), o “Custo das Mercadorias Vendidas” representa as despesas, embora possa haver confusão em relação à terminologia empregada. Para o autor Eliseu Martins, por exemplo, o correto deveria ser “Despesas das Mercadorias Vendidas”."
Fonte:UOL - Brasil Escola.

Quem, realmente, foi Pôncio Pilatos?

Governador romano da Judeia entre 26 e 36 d.C., durante o reinado de Tibério, sua administração foi marcada por conflitos com a elite judaica e pela participação no julgamento e execução de Jesus Cristo.
Após a remoção de Arquelau, filho de Herodes, Roma passou a nomear governadores para a província. 
Pilatos foi o quinto a ocupar esse cargo, permanecendo por cerca de dez anos. 
Uma inscrição encontrada em 1961, em Cesareia Marítima, conhecida como a Pedra de Pilatos, confirma sua existência histórica, mencionando um edifício dedicado ao imperador Tibério, o que indica sua tentativa de demonstrar lealdade ao governante.
Como governador, tinha autoridade sobre a administração civil, arrecadação de impostos e manutenção da ordem pública. 
Também possuía o poder de impor a pena de morte, embora o Sinédrio, tribunal judaico, necessitasse de sua aprovação para execuções.
Seu governo foi turbulento, com frequentes tensões entre romanos e judeus. Segundo Flávio Josefo (Antiguidades Judaicas e Guerras dos Judeus), tomou decisões que provocaram protestos, como a introdução de estandartes romanos com a imagem do imperador em Jerusalém, o que violava as leis judaicas contra imagens. 
Após forte resistência, recuou. 
Outro incidente envolveu a apropriação de dinheiro do Templo para a construção de um aqueduto, gerando mais revoltas.
O filósofo judeu Filo de Alexandria (Embassy to Gaius) o retrata como cruel e inflexível, destacando seu desprezo pelas tradições judaicas e sua tendência a recorrer à violência para manter a ordem.
Pilatos teve um papel central no julgamento de Jesus, os Evangelhos relatam que os líderes judaicos o levaram ao governador, acusando-o de se proclamar rei, o que poderia ser interpretado como traição a Roma. 
Após interrogá-lo, declarou não encontrar culpa.
Ao saber que Jesus era da Galileia, enviou-o a Herodes Antipas, que o devolveu sem condenação. 
Tentou libertá-lo, mas, pressionado pela multidão incitada pelos líderes religiosos, cedeu. 
Lavou as mãos em um gesto simbólico de inocência e ordenou a crucificação.
Historiadores debatem se foi realmente pressionado a agir contra sua vontade. Raymond E. Brown (The Death of the Messiah) argumenta que não era um juiz fraco, mas um político pragmático que decidiu condenar Jesus para evitar tumultos. 
Paul Winter (On the Trial of Jesus) sugere que os Evangelhos suavizam a responsabilidade romana, transferindo maior culpa para as autoridades judaicas.
Pilatos foi destituído após reprimir brutalmente um levante de samaritanos. Segundo Josefo, Vitélio, governador da Síria, o enviou a Roma para prestar contas, mas Tibério morreu antes de sua chegada.
Seu destino final é incerto. Eusébio de Cesareia (História Eclesiástica) menciona que cometeu suicídio no reinado de Calígula, versão possivelmente influenciada pela tradição cristã, que o retrata como um homem atormentado por sua decisão no julgamento de Jesus.
A figura de Pilatos divide opiniões, Fergus Millar (The Roman Near East) enfatiza seu papel como um típico governador romano, preocupado com a ordem e a estabilidade. 
Helen Bond (Pontius Pilate in History and Interpretation) analisa como sua imagem foi moldada pelos Evangelhos e historiadores posteriores.
Nos textos cristãos, aparece como um juiz relutante, enquanto escritos judaicos o retratam como um administrador brutal. Essa dualidade reflete disputas entre comunidades cristãs e judaicas nos séculos seguintes.
Pôncio Pilatos foi um governador pragmático, cuja principal preocupação era manter a ordem na Judeia. Embora reconhecesse a inocência de Jesus, optou por preservar sua posição política em detrimento da justiça. 
Sua imagem ao longo da história foi influenciada tanto por narrativas cristãs quanto por relatos históricos, tornando-o uma figura complexa e controversa.
Texto: Klaus Dante.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

Até os animais voltaram

Em 20 anos, o fotógrafo Sebastião Salgado e sua esposa, Lélia Wanick, provaram que a natureza pode renascer. Após perderem a mata ao redor de sua propriedade em Aimorés, Minas Gerais, decidiram replantar não só árvores, mas todo um ecossistema.
Com paciência e determinação, plantaram mais de 2 milhões de árvores, recriando a floresta atlântica original. 
O resultado? Uma explosão de vida: mais de 170 espécies de aves, mamíferos e répteis voltaram à região, transformando o cenário desolador em uma floresta vibrante.  
As fotos do "antes e depois" são um lembrete poderoso: se um casal conseguiu trazer uma floresta de volta, o que mais podemos fazer pelo planeta?

Por que a Torre Inclinada de Pisa se cinclina?

A famosa torre, construída como campanário da Catedral de Pisa no Campo dos Milagres, começou a inclinar-se desde os primeiros anos de sua construção. Tudo começou em 1173 d.C., quando uma laje de 3 metros de profundidade foi colocada como base, sobre a qual as paredes começaram a ser construídas. Entretanto, ao chegar ao terceiro andar, foi detectada uma inclinação perceptível.
O problema é que esta torre de 14.500 toneladas foi construída sobre fundações muito rasas, sustentadas por um solo composto de areia e silte, um terreno claramente instável. Os engenheiros da época tentaram compensar o ângulo construindo os andares superiores com paredes mais altas no lado mais profundo. Mas isso só piorou o problema, pois o peso extra fez com que aquele lado afundasse ainda mais.
A construção, que levou 199 anos para ser concluída, teve várias pausas, permitindo que o solo argiloso sob a torre se compactasse, ajudando a evitar que ela desabasse. De fato, essa compactação natural permitiu que a torre resistisse até quatro terremotos. No entanto, estava claro que, sem intervenção, a torre acabaria desabando.
Em 1990, a torre foi fechada ao público para iniciar um processo de restauração. Engenheiros modernos calcularam que se a inclinação excedesse 5,44 graus, a torre entraria em colapso. Para evitar isso, 90 toneladas de concreto foram injetadas no solo por meio de 361 furos de 40 metros de profundidade, estabilizando a base com estacas que alcançavam camadas mais firmes do solo. Em seguida, o solo foi removido do lado menos afundado, ajustando a inclinação para seus 4 graus originais. Por fim, foram instaladas âncoras de aço para fixar as fundações.
Embora a torre pudesse ter sido completamente endireitada, decidiu-se manter sua inclinação característica para preservar seu valor turístico e histórico. Após a confirmação de que a estrutura poderia permanecer estável por pelo menos 300 anos, a torre foi reaberta ao público, consolidando-se como um ícone da engenharia e da história.
Fonte: #curiosidades; #revelaçãosurpreendente;  #fatoscuriosos.

Raposa de fogo: um dos animais mais raros do mundo

A raposa de fogo é uma variação extremamente rara da raposa vermelha, caracterizada por uma alteração na produção de melanina. Representando menos de 1% da população de raposas vermelhas, esses animais únicos se destacam pela sua beleza singular e inteligência notável.
Capazes de serem treinadas para caçar pequenos animais como ratos e coelhos, as raposas de fogo são verdadeiras joias da natureza.
Embora sejam raras, avistamentos já foram registrados em diferentes partes do mundo, como Reino Unido, Estados Unidos, Canadá, Noruega e Japão.

domingo, 19 de janeiro de 2025

Um hino para o Titanic

Em uma manhã de domingo, o reverendo Charles Morgan, ministro da Igreja Metodista Rosedale, em Winnipeg, Manitoba, Canadá, chegou cedo para as 
preparações dos serviços religiosos daquela noite. Antes de entrar em seu gabinete, ele separou os hinos que seriam entoados e dedicou-se a outros preparativos.
Feito isso, retirou-se para o gabinete e decidiu tirar uma soneca até a hora dos serviços religiosos. Assim que caiu no sono, começou a ter um sonho vívido, que misturava escuridão com o som de enormes ondas. Acima daquele ruído contínuo, um coro entoava um velho hino que o reverendo Morgan não ouvia fazia anos.
O sonho foi tão perturbador que o ministro acordou com o hino ecoando em seu ouvido. Consultou o relógio e viu que ainda dispunha de tempo para dormir mais um pouco, o que ele fez - imaginando, incorretamente, que o breve tempo desperto havia limpado sua mente da visão perturbadora.
Assim que tornou a dormir, o sonho voltou: as águas violentas, a escuridão profunda, o velho hino. Morgan acordou de repente, estranhamente indisposto. Por fim, levantou, caminhou pela igreja vazia e colocou um novo número de hino no quadro.
Quando os serviços religiosos tiveram início, a congregação cantou o hino que perturbara os sonhos de Morgan - um hino estranho para se cantar em uma igreja localizada a milhares de quilômetros do oceano, cujas palavras pediam a Deus que ouvisse as orações por aqueles que estavam em perigo no mar. Ao ouvir as palavras, Morgan sentiu os olhos ficarem cheio de lágrimas.
Pouco tempo depois, o ministro soube que no momento em que os congregados cantavam o hino, uma grande tragédia ocorria no oceano. Era o dia 14 de abril de 1912, e longe dali, no Atlântico Norte, o Titanic afundava.
Fonte: Livro dos fenômenos estranhos. 

Sobre o funk

O funk é um estilo musical que surgiu através da música negra norte-americana no final da década de 1960. Na verdade, o funk se originou a partir da soul music, tendo uma batida mais pronunciada e algumas influências do R&B, rock e da música psicodélica. De fato, as características desse estilo musical são: ritmo sincopado, a densa linha de baixo, uma seção de metais forte e rítmica, além de uma percussão (batida) marcante e dançante.
Década de 60: O Funk Indecente 
O funk surgiu como uma “mescla” entre os estilos R&B, jazz e soul. No início, o estilo era considerado indecente, pois a palavra “funk” tinha conotações sexuais na língua inglesa. O funk acabou incorporando a característica, tem uma música com um ritmo mais lento e dançante, sexy, solto, com frases repetidas.
Década de 70: O P-Funk
A alteração mais característica do funk, na década de 70, foi feita por George Clinton, com suas bandas Parliament, e, posteriormente, Funkadelic. Tratava-se de um funk mais pesado, influenciado pela psicodelia, dando origem ao subgênero chamado P-Funk. Nesse período surgiram renomadas bandas como B.T. Express, Commodores, Earth Wind & Fire, War, Lakeside, Brass Construction, Kool & The Gang, etc.
Década de 80 e Contexto Atual: As Fusões Comerciais 
A década de 80 serviu para “quebrar” o funk tradicional e transformá-lo em vários outros subgêneros, de acordo com o gosto do ouvinte, já que a música nesse período era extremamente comercial. Seus derivados rap, hip-hop e break ganhavam uma força gigantesca nos EUA através de bandas como Sugarhill Gang e Soulsonic Force. No final dos anos 80, surgiu a house music. Derivado do funk, esse estilo tinha como característica a mistura do funk tradicional com samplers e efeitos sonoros eletrônicos. A house music foi um novo fenômeno nas pistas de dança do mundo inteiro. Um pouco mais recente, o funk sofreu alterações para o lado do metal, com a fusão de guitarras distorcidas de heavy-metal com batida do funk através de bandas atuais como Red Hot Chili Peppers e Faith No More. O derivado do funk mais presente no Brasil é o funk carioca. Na verdade, essa alteração surgiu nos anos 80 e foi influenciada por um novo ritmo originário da Flórida, o Miami Bass, que dispunha de músicas erotizadas e batidas mais rápidas. 
Depois de 1989, os bailes funk começaram a atrair muitas pessoas. Inicialmente as letras falavam sobre drogas, armas e a vida nas favelas, posteriormente a temática principal do funk veio a ser a erótica, com letras de conotação.
Fonte: UOL - Brasil Escola.

Efeitos do chiclete no organismo

O chiclete é uma espécie de confeito elaborado a partir do látex da árvore Sapota, ou Sapoti. Existem duas teorias que explicam a origem do chiclete. A primeira afirma que os índios da Guatemala passaram a mascar o látex que saía da árvore. No entanto, a hipótese mais provável que explica a origem do confeito é a de que foi o inventor nova-iorquino Thomas Adams Jr. que começou a fabricar borrachas mastigáveis. De fato, o confeito ganhou enorme popularidade durante as Guerras Mundiais, uma vez que os soldados o usavam como forma de relaxante para o stress diário de guerra.
Não é recomendável realizar a mastigação do chiclete no período da manhã, antes da primeira refeição do dia, pois o mesmo estimula a produção de suco gástrico, favorecendo assim, a ocorrência de gastrites e úlceras. No entanto, sabe-se também, que o mastigar do chiclete aumenta o ritmo cardíaco, ativa os mecanismos do cérebro responsáveis pela memorização e aumenta a oxigenação do cérebro.
Fonte: UOL - Mundo Educação. 

Seis mapas que mudaram nossa visão do mundo

Os mapas sempre foram muito mais do que simples guias para encontrar caminhos. Eles refletem o que as pessoas de uma época acreditavam, sabiam ou até imaginavam sobre o mundo.
Desde as primeiras representações gravadas em tábuas de argila até os aplicativos de localização nos nossos celulares, cada avanço na cartografia conta uma parte da nossa história. Vamos conhecer seis mapas que mudaram a forma como vemos o planeta.
1. Mapa Babilônico
Mapa babilônico. (Fonte: Wikimedia Commons/Reprodução)
Imagine um pequeno pedaço de argila onde alguém tentou representar todo o mundo conhecido. É exatamente isso que temos no Mapa Babilônico do Mundo, criado no século 6 a.C.
Nele, a Babilônia ocupa o centro de tudo, com círculos que indicam terras conhecidas e misteriosas ao redor. Além de ser um mapa, essa peça é como um portal para entender como os babilônios viam o universo, cheio de mitos, crenças e curiosidade pelo desconhecido.
2. Geographia de Ptolomeu
Mapa do mundo de Ptolomeu. (Fonte: Wikimedia Commons/Reprodução)
No século 2 d.C., Ptolomeu criou algo que parecia mágico para sua época: um sistema de coordenadas para localizar lugares. Seu atlas trazia mapas baseados em latitude e longitude e reunia cerca de 8 mil locais conhecidos.
É claro, ele cometeu alguns erros — como imaginar o Oceano Índico como um mar fechado —, mas sua obra foi um divisor de águas. Redescoberta séculos depois, Geographia influenciou profundamente a cartografia durante o Renascimento.
3. Tabula Rogeriana
Tabula Rogeriana. (Fonte: Wikimedia Commons/Reprodução)
Criado por al-Idrisi em 1154, esse mapa era tão preciso que foi usado por séculos. Al-Idrisi teve a genialidade de reunir informações de viajantes de diferentes culturas. E, ao contrário do que estamos acostumados, posicionou o norte na parte inferior e o sul no topo, destacando Meca como o centro espiritual.
Essa abordagem inovadora nos lembra que os mapas também refletem valores e perspectivas culturais.
4. Mapa de Hereford
Mapa de Hereford. (Fonte: Wikimedia Commons/Reprodução)
Mais do que um mapa, o Hereford Mappa Mundi é uma obra de arte. Feito por volta de 1300, ele não tinha como objetivo ajudar as pessoas a se orientarem, mas sim mostrar a visão cristã do mundo.
Jerusalém ocupa o centro, enquanto o Jardim do Éden está no topo. Criaturas míticas e histórias bíblicas se misturam com cidades reais, criando um documento fascinante sobre a mentalidade da Europa medieval.
5. Mapa de Waldseemüller
Martin Waldseemüller foi o primeiro a usar o nome "América". (Fonte: Getty Images/Reprodução)
Em 1507, o cartógrafo Martin Waldseemüller fez história ao batizar o "Novo Mundo" como América, em homenagem a Américo Vespúcio.
Esse mapa foi o primeiro a representar as Américas como continentes distintos da Ásia, mudando para sempre a visão do mundo ocidental. Hoje, a única cópia sobrevivente é um tesouro guardado na Biblioteca do Congresso dos EUA.
6. Google Maps
O Google Maps revolucionou a forma como os mapas são acessados. (Fonte: Getty Images/Reprodução)
Em 2005, o Google Maps chegou para mudar tudo. De repente, passamos a ter o mundo inteiro na palma da mão, com imagens de satélite, rotas em tempo real e até a possibilidade de "caminhar" pelas ruas sem sair de casa.
Mais do que um mapa, é uma revolução na forma como interagimos com o espaço ao nosso redor.
Fonte: Megacurioso. 

sábado, 18 de janeiro de 2025

A águia e a menina cega

1. A MONTANHA E SEU SILÊNCIO
O vento sussurrava entre os pinheiros da montanha, levando consigo os ecos de um mundo distante. Sofia, uma menina de 8 anos, estava sozinha. Sua cegueira não era o único peso que carregava; tinha sido abandonada por aqueles que a deveriam proteger. Enrolada em um cobertor raído, o seu corpo pequeno tremia com cada rajada gelada.
A montanha parecia indiferente, mas não estava deserta. Sobrevoando os picos de neve, uma águia careca observava o panorama. Majestosa e poderosa, tinha testemunhado a dureza da vida, mas aquela figura minúscula, sentada à beira da ravina, capturou sua atenção.
A águia, que os moradores chamavam Falcão por seu tamanho e acuidade, desceu lentamente. Com uma batida suave, aterrissou a poucos metros de Sofia. Ela virou a cabeça sentindo o vento provocado pelas asas, mas não mostrou medo.
"Quem está aí?" murmurou a menina, sua voz apenas um sussurro na imensidão. Falcão, claro, não podia responder, mas o instinto dele o empurrou a aproximar-se.
2. UM ENCONTRO INESPERADO
Falcão deu alguns passos em direção a Sofia, seu olhar fixo nela, como se pudesse entender sua fragilidade. A menina estendeu a mão com cautela, sentindo o ar, e a águia, surpreendentemente, não se afastou. Em um ato que desafiou a própria natureza, Sofia conseguiu tocar as penas macias do seu peito.
"Você é um anjo? " perguntou com um vislumbre de esperança na sua voz. Para ela, o calor que emanava de Falcão era uma resposta. O pássaro abaixou a cabeça, como se entendesse o seu desespero.
A noite começou a cair e a temperatura baixou ainda mais. Falcão, em um movimento quase instintivo, abriu uma das suas asas e colocou-a em volta da menina. Aquela imagem era algo que nenhum humano teria acreditado possível: uma águia cuidando de uma criança cega.
Enquanto a escuridão envolvia a montanha, Sofia adormeceu, segura pela primeira vez em dias. Hawk ficou acordado, vigiando os arredores, protegendo-a como se fosse sua cria.
3. A TRAVESSIA PARA O VALE
Ao amanhecer, Sofia acordou com o canto das aves. Embora não pudesse ver, sabia que o mundo estava vivo ao seu redor. Falcão, inquieto, começou a caminhar em direção a um caminho. A menina, como se compreendesse a intenção do pássaro, levantou-se e seguiu-o, seus pezinhos apertando o chão.
O caminho era difícil, cheio de pedras e galhos. Sofia tropeçava muitas vezes, mas sempre que caía, Hawk esperava pacientemente, emitindo um leve som, como se a encorajasse a continuar.
Em um momento, ao chegar a uma clareira, Falcão deixou escapar um grito agudo. Do alto, outras águias responderam. Era como se estivesse a pedir ajuda. Momentos depois, um bando de pássaros começou a sobrevoar a área, guiando Sofia para o vale.
A viagem durou horas, mas ao cair da tarde, Sofia ouviu algo que a fez acelerar o passo: o murmúrio de um rio e vozes humanas à distância.
4. O MILAGRE NA CIDADE
Quando Sofia chegou à beira da cidade, as pessoas ficaram paralisadas ao ver a cena: uma menina cega, guiada por uma águia e seguida por outras aves. A imagem era quase sobrenatural.
Um homem, Andrés, 42 anos, correu para ela. "Estás bem, pequena?" perguntou, ajoelhando-se diante dela. Sofia sorriu pela primeira vez em dias.
"Estou bem graças a Hawk", respondeu, apontando para o pássaro, que agora estava pousada em uma rocha próxima. Andrés levantou os olhos para a águia, impressionado. Era como se o pássaro entendesse tudo o que estava acontecendo.
Os habitantes da aldeia, comovidos com a história de Sofia, decidiram cuidar dela. Ela foi acolhida por Clara, uma mulher de 50 anos que tinha perdido a filha anos atrás. Clara levou-a para casa, e a partir desse momento, Sofia encontrou não apenas um lar, mas uma família que a amava.
5. UM NOVO COMEÇO
Meses depois, a história de Sofia e Falcão tornou-se uma lenda. A águia continuava visitando-a, posando na árvore em frente à sua janela, como se quisesse ter certeza de que ela estava bem.
Com o tempo, Sofia aprendeu a se adaptar à sua cegueira. Andrés, que acabou por ser um músico, ensinou-o a tocar guitarra. Clara lia-lhe livros e ensinava-lhe sobre o mundo através das palavras.
Um dia, enquanto tocava uma melodia em frente à cidade, Hawk apareceu mais uma vez, lançando um grito que ecoou nas montanhas. Para Sofia, aquele som não era apenas um chamado; era uma promessa de que eu nunca estaria sozinha.
A menina abandonada encontrou numa montanha gelada o calor de um protetor improvável e, em uma pequena cidade, um amor que curou todas as suas feridas.