A China do século XXI não é somente uma potência em ascensão: é uma força transformadora da ordem internacional. Em poucas décadas, o país passou de uma economia rural e isolada para se tornar a segunda maior economia do planeta, disputando protagonismo com os Estados Unidos em frentes econômicas, tecnológicas, militares e diplomáticas. RAÍZES HISTÓRICAS DO RESSURGIMENTO
Para entender a ascensão chinesa, é preciso recuar. Durante séculos, a China foi uma das civilizações mais avançadas do mundo. Mas a chamada “Era da Humilhação” — marcada por guerras com potências ocidentais, perda de territórios e o domínio colonial — abalou profundamente o orgulho nacional.
A Revolução Comunista de 1949, liderada por Mao Zedong, deu início à construção de um novo Estado. Porém, foi com as reformas econômicas iniciadas por Deng Xiaoping a partir de 1978, que a China começou a se transformar: abandonou o isolamento e integrou-se à economia global com um modelo único de “socialismo de mercado”.
O MOTOR DA NOVA CHINA
Nas décadas seguintes, a China tornou-se a “fábrica do mundo”, dominando cadeias de produção e acumulando reservas bilionárias. A urbanização em massa, os investimentos em infra-estrutura e a educação técnica impulsionaram a produtividade. Hoje, o país lidera áreas como:
- Tecnologia 5G, inteligência artificial e veículos eléctricos;
- Finanças globais, com o yuan ganhando espaço internacional;
- Infra-estrutura global, com a ambiciosa Iniciativa do Cinturão e Rota (Nova Rota da Seda), que busca ligar a Ásia, a África e a Europa sob uma rede logística e diplomática liderada por Pequim.
GEOPOLÍTICA DO PODER: O DESAFIO AO OCIDENTE
A ascensão da China desafia o status quo liderado pelo Ocidente desde o fim da Segunda Guerra Mundial. O país propõe uma ordem internacional mais multipolar e centrada na Ásia, promovendo alianças como o BRICS, o SCO (Organização de Cooperação de Xangai) e reforçando sua influência em organismos internacionais.
Ao mesmo tempo, tensões com os Estados Unidos e seus aliados aumentam, especialmente em temas como:
- Taiwan e o Mar do Sul da China;
- Tecnologias estratégicas e segurança cibernética;
- Direitos humanos e liberdade de expressão.
A disputa não é apenas militar ou econômica — é ideológica, envolvendo diferentes modelos de sociedade, desenvolvimento e governança.
O DILEMA GLOBAL: COMPETIÇÃO OU COOPERAÇÃO?
A ascensão chinesa impõe ao mundo um dilema geopolítico: será possível coexistir com uma superpotência que não compartilha dos mesmos valores políticos que o Ocidente? Ou o futuro será marcado por uma nova Guerra Fria, mais tecnológica e diplomática que militar?
Países do Sul Global, especialmente na África e América Latina, enxergam na China uma alternativa de investimento e parceria sem os condicionantes tradicionais do Ocidente, o que aumenta o alcance da influência chinesa ,mas também gera dependência.
A ascensão da China é, ao mesmo tempo, um feito histórico e um desafio sistêmico. Para alguns, é o retorno de um império milenar ao seu lugar de destaque. Para outros, uma ameaça à ordem liberal internacional. O certo é que o século XXI será moldado pelo equilíbrio — ou desequilíbrio — entre as potências tradicionais e o gigante que despertou.
A pergunta que fica: o mundo está preparado para a liderança chinesa?
Fonte: ARQUIVO HISTÓRICO - RESGATANDO MEMÓRIAS, CONECTANDO HISTÓRIAS