segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Cem dias de governo

Amanhã será empossado o novo presidente norte-americano, Barack Hussein Obama, eleito contra diversas expectativas de analistas políticos, mas com a força de quem está ciente e consciente do que lhe esperaria pela frente. O povo norte-americano acreditou nele. A eleição aconteceu. Agora vem o trabalho e a luta árdua para fazer a economia norte-americana voltar aos trilhos e, como decorrência, a economia global.
Os mercados continuam apreensivos com o início dos trabalhos do novo presidente e de sua equipe. Muitos falam que os 100 primeiros dias de governo serão decisivos para o comportamento dos mercados. Mas os problemas continuam pipocando aqui e ali.
Hoje surge a notícia de que o governo inglês lançou um plano multi-bilionário para socorrer bancos do país. As bolsas na Europa sobem com boa valorização e os títulos do governo britânico caem. As bolsas asiáticas já fecharam em alta. Então o que se esperar com a pose de Obama? Por que esperar 100 dias para avaliá-lo?
Todos estamos acostumados a ver na TV e ler nos jornais as expectativas para os primeiros 100 dias de todo e qualquer governo. Mas o que tem isto de útil para a vida de um país, estado, município, para empresas, ou para pessoas?
Talvez seja interessante relembrar o porquê do uso da expressão.
A idéia de que é possível produzir acontecimentos importantes em apenas 100 dias não se limita à vida pública. Muita pessoas acreditam que potências de dez facilitam soluções mais exatas. Dez ao quadrado, muito especialmente. Há livros dedicados à saúde sobre o tema (100 Dias para Melhorar a Saúde); em DVD, é possível alugar 100 Dias na Floresta e uma consulta ao Google encontramos relacionados ao termo "100 dias", mais de 300.000 itens.
Todos bem lembram de Napoleão Bonaparte. Pois bem, é dessa época que acredita-se tenha vindo a expressão "cem dias de governo", mais precisamente porque em 1814, com o Tratado de Fontainebleau, Napoleão Bonaparte foi afastado da ilha de Elba, de onde fugiu no ano seguinte. Com a queda de Bonaparte, a monarquia foi restaurada e o trono francês foi ocupado por Luís XVIII, irmão de Luís XVI, que fora guilhotinado pela revolução. Nesse mesmo período, Napoleão desembarcou na França, onde foi recebido como herói. Enquanto avançava em direção a Paris, obteve, inclusive, o apoio das tropas reais que foram enviadas para prendê-lo, numa insurreição que durou 100 dias, até ser derrotado. Com isso, Luís XVIII abandonou o trono e fugiu do país, ficou no poder por pouco mais de três meses. Por esse motivo, essa fase de governo foi conhecida como o "Governo dos Cem Dias". Curiosamente, os 100 dias entraram nos estudos políticos como crônica de uma derrota.
No caso de Obama, segundo tenho acompanhado pelo noticiário, há muito não acontecia na política americana uma transição de governo com tanto dinamismo por parte do eleito. Há dois meses atrás Obama já dava sinais de que precisava sinalizar um caminho para alterar a rota que a economia americana estava seguindo, muito perigosa, por sinal.
Muito tem sido falado sobre semelhamças entre o período atual e 1932, na passagem do governo Herbert Hoover para Franklin Delano Roosevelt. Àquela época também havia uma deterioração econômica e o poder estava acéfalo. A transição de governo levava algo como 4 meses. Muito tempo!
Parece que Obama aprendeu lições importantes com a história. Enquanto Roosevelt dizia que "a única coisa que devemos temer é o próprio medo", Obama prega que o "momento é de ação, de ação agora".
Acredito que os cem primeiros dias de Obama já tenham começado há dois meses (ou quem sabe até antes), daí certo entusiamo dos analistas com uma recuperação dos mercados em prazo menor do que apregoa a maioria. Continuo firme em minha posição de que lá pelo segundo semestre as coisas já estarão diferentes.

Aguardemos!

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